A Associação Cultural e Desportiva de Gulpilhares nasce em 1944 com o propósito de contribuir para a formação não académica dos seus sócios, respondendo a uma necessidade da altura: levar conhecimento a uma população, à data, maioritariamente analfabeta. O hóquei em patins chegou “por obra do destino” e é hoje a modalidade mais forte do clube, onde se formaram “muitos dos campeões da Europa e do Mundo”, contou, ao Mundo Atual, o presidente João Costa.

Um dos propósitos inscritos na carta do registo da ACD Gulpilhares era precisamente o de os associados que soubessem ler e escrever, ajudarem os outros a evoluir nesse sentido.

A história é contada, ao Mundo Atual, pelo atual presidente da Direção, João Costa, numa conversa longa, onde houve tempo para sentir o pulsar emocionado deste líder, especialmente quando chegamos ao presente. Um presente que consagrou a formação do clube com dois títulos nacionais: sub-23 masculino (com atletas que ali cresceram) e sub-15 feminino.

Os troféus premeiam toda “uma tradição de formação” do clube gaiense naquela que é a sua modalidade mais forte – o hóquei em patins – e que aconteceu quase por ordem do destino.

“No início, houve ciclismo, andebol e várias modalidades, até que, a certa altura, a Académica de Espinho ia ser obrigada a jogar em Aveiro, por causa da criação da Associação de Patinagem no distrito. Como os dirigentes não queriam, por causa das viagens e da falta de competitividade, arranjou um clube para se filiar no Porto.

Jogavam com o símbolo do Gulpilhares, mas o patrocinador era a Académica de Espinho”, contou o dirigente.

Mais tarde, quando a Académica pôde voltar a competir por si, o Gulpilhares quis manter a modalidade e formou equipa, com alguns dos atletas que decidiram manter-se.

“Formamos imenso atletas aqui e fornecemos todos os clubes à volta. Começámos a ganhar campeonatos nacionais muito cedo e, quando descemos da I Divisão Nacional, éramos a equipa com mais presenças consecutivas nesse escalão: 22 anos, só superados por Benfica, FC Porto e Oliveirense”, recorda.

Quando os apoios começaram a baixar e outros problemas surgiram, há cerca de sete anos, “o clube teve de dar um passo atrás, no respeitante aos seniores, mas sem nunca descurar a formação”.

Nos últimos 20 anos, em termos de vitórias nos campeonatos nacionais, “é Porto, Valongo e Gulpilhares”, diz, com orgulho, para sublinhar: “Somos muito assediados em termos de jogadores, por isso temos sempre de formar três ou quatro bons jogadores, porque sabemos que vamos ser vítimas. Porto, Oliveirense, Valongo, vêm cá todos os anos, assim como Espinho e Carvalhos, muitas vezes”.

“Uma particularidade” destacada por João Costa prende-se com o facto de serem “muitos os campeões do mundo e da europa que fizeram todo o seu percurso no Gulpilhares, até ao momento em que, já como seniores”, rumaram a outros clubes.

Jorge Silva, Nuno Moreira, Caio, Girão, Vítor Hugo, Poca, Piolho, Rúben e Rubinho são apenas alguns exemplos, uma vez que, “na época passada, eram 11 os jogadores formados no Gulpilhares a jogar em clubes da I Divisão”.

O problema, diz, é que não é possível mantê-los.

“Fomos campeões de sub-23, com jovens que aqui jogam desde pequeninos, e assediados, todos os anos, para sair”, lembra. E como é que os segurou?

É aqui que João Costa mal consegue conter as lágrimas: “Foi um prémio que eles tiveram… nunca quiseram sair… e no último ano de formação, em que passam a seniores, são campeões… Eles olhavam para trás e pensavam: podia ter sido campeão no Porto, por exemplo… mas decidiram ficar e acabaram por ser campeões aqui”.

O mesmo acontece com os treinadores, como aconteceu com o técnico que conduziu estas duas equipas aos títulos nacionais, mas já com acordo de saída para o Valongo.

“O nosso projeto é formar. No feminino, abrimos a secção, campeã nacional de sub-15 e terceira classificada em sub-19. A patinagem artística, criada há cerca de dois anos, já conta com mais de 60 meninas”, remata.

 

Fonte: https://mundoatual.pt/o-nosso-projeto-e-formar/